terça-feira, 26 de maio de 2009

Submissão Voluntária. Ou não.


Em minha monografia falei sobre o Direito de Resistência popular contra as arbitrariedades do Estado, mas esse é um assunto quero tratar em um post próprio e também quero por minha monografia na internet para quem quiser, e for louco, ler.

Mas quero aproveitar um ponto que foi apontado nos comentários do último post quanto a complacência popular. Mas hoje não serei eu a falar, mas sim um filósofo e humanista Francês chamado Étienne de La Boétie, que versa acerca da servidão voluntária da população, em outras palavras, a falta de vontade de sair às ruas e lutar pelo o que é certo, mantendo suas “bundas” bem acomodadas em suas cadeiras confortáveis, assistindo o jornal e falando “nossa, que absurdo, e ninguém faz nada”. Pois é, e sarrafo em nós!

La Boétie afirma que a servidão era voluntária porque um só, o tirano (que neste caso vamos assumir todas as injustiças e as pessoas que as perpetram), não podia oprimir sem a tolerância dos oprimidos. O apoio à tirania vinda dos próprios homens que, encantados pela figura do monarca, forneciam a energia que esse transformava em força e violência. A submissão passiva levava à monarquia absolutista. Trazendo mais para nosso quadro, tudo que está errado hoje nos é tão empurrado que quase as endeusamos como um “mal necessário”, como, por exemplo, (que eu não gostei mesmo, achei ridículo), aquilo que chamam de “filme” Tropa de Elite, em que somente se mostra um bando de animais que se confrontam com outros bando de animais, digladiando-se com total desprezo pela vida humana. Mas aquilo foi tão aclamado e louvado pelos críticos e grande parte da sociedade, que chegou ao ponto de um político conhecido dizer “isso é bom, pois é algo para o povo se orgulhar em seu país”. Orgulhar? Bom, voltemos a La Boétie.

A supremacia era estabelecida no início pela força; posteriormente ganhou uma nova fonte, mais forte e incisiva: A educação. Um processo de doutrinação das massas, através dela se passou a achar natural esse modo de viver, um esquecimento gradual do desejo de liberdade e da justiça, que dependiam dos costumes, do estímulo ao prazer e a submissão voluntária.

Essa primeira condição para se alcançar esse quadro social, o costume, que levava os homens a pensarem que o Estado em que viviam representava uma condição natural, esquecendo-se da liberdade e justiça. A sucessão dos exemplos do cotidiano acabaria por levar os homens a se convencerem de que eram obrigados a suportar o mal da tirania, desembocando sempre na velha afirmativa “é que sempre foi assim”.

A segunda linha vinha do estímulo ao prazer, já que os teatros, os jogos e farsas e os espetáculos (nos tempos de hoje englobando a nossa queria TV e a internet) eram iscas de que se serviam os governantes para obter a servidão dos seus súditos. A luxúria tornava essas pessoas covardes, desmanchando o júbilo e o furor do combate pela liberdade e pela justiça. O encanto das festas fazia com que acreditassem em mentiras, não percebendo que o recebido não passava de migalhas do que lhes tomavam, a velha política do pão e circo, já disse Chacrinha, nada se cria, tudo se copia. Um grande exemplo disso é a Copa do Mundo que vem no Brasil. Irão gastar bilhões, roubar mais bilhões, deixar o erário público com um rombo ainda maior para que alguns homens venham até aqui correr atrás de uma bola. Esse dinheiro não poderia ir para o povo? Mas, acha que povo, que sempre reclama de injustiças, pobreza, iria querer que a Copa não fosse aqui? “Uns feriadinhos são sempre bons” rsrsrs, pois é!

A força e o segredo, entretanto, encontravam-se no apoio que recebiam dos próprios homens. O injusto cercava-se de quatro ou cinco que obtinham seus melhores favores, que por sua vez possuíam outros seiscentos debaixo deles, que conservavam outros seis mil. O poder estava distribuído e hierarquizado, envolvendo um grande número de pessoas. A ilusão de poderem beneficiar-se das vantagens dos de melhor influência fomentava uma base sólida de homens subjugados, mas dispostos a submeterem outros. A energia que movimentava a dominação encontrava-se na sedução do poder pelo domínio. Quantas vezes já vi e ouvi pessoas que faziam propagandas de vereadores, prefeitos e demais tipos não porque concordavam com seus ideais e propostas, mas porque “iria arranjar um emprego para seu filho”. Eu não serei hipócrita ao ponto de dizer que as pessoas devem se abster de ter melhores condições de vida, e que às vezes é muito difícil conseguir isso se não se submeter, mas será que é difícil, ou cômodo, não perceber que se todos agirem contra isso, todos poderão ter essas mesmas condições sem terem de enegrecer sua própria alma?

Assim, através de um processo de doutrina das pessoas, seriam facilmente dominadas e subjugadas, dando a elas os estímulos e a educação correta, criando costumes refletidos em âmbito social/familiar. Esse era o ponto, tornar aquilo algo tão absorvido pela sociedade, que se transformaria a ponto de ser considerado um costume ou tradição, algo tão intrincado que seria impossível se lutar contra.

O conhecimento, entretanto, possibilitava aos homens a formação da amizade entre si. A semelhança de seus anseios despertaria a unidade contra as injustiças, na recusa de servir. A oposição iria se manifestar pela resistência como um só, um grupo unido. A luta e a coragem estariam vinculadas aos conhecimentos, ao estudo, aos livros e à correta análise do que estão vivendo e se querem continuar com isso em suas vidas.

Muitos que lerem isso dirão “falar é fácil” ou nem mesmo perderão seus minutos neste blog. Não peço para que ninguém faça de sua vida uma cruzada pelo bem da humanidade, você também tem que comer, se vestir, ganhar seu sustento, mas somente peço, não por mim, mas por vocês mesmos, por seus filhos, que lutem, saiam da comodidade de suas vidas e de suas religiões e ponham suas caras na reta. As pequenas coisas são necessárias, que se tornam carreiras progressivas de luta contra tudo o que está errado. Mas para tudo isso dar certo, devemos mudar o que há dentro de nós primeiro antes de mudar o que está a nossa volta. Fazendo isso, você já consegue mudar o mundo.

9 comentários:

  1. Grande Diego!
    Desejo sucesso no seu blog. Espero que muitas pessoas possam ter acesso aos seus posts (sempre pontuais).
    De fato, o tema abordado é de suma relevância e faz restar evidente como o próprio homem conseguiu relativizar seus direitos e garantias fundamentais, indisponíveis.
    Felizmente, apesar de todo comodismo gerado pelo cansaço de lutar, ainda nos restam "erros da matrix" como você, como um vírus que dribla todo o sistema e ao invés de adequar-se à ele, age para que ele o faça.
    Sds,
    Arthur Salomão

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  2. Será que os agentes são Sônia Abrão, Luciano Huck, Raul Gil e Datena?

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  3. Eles eu não sei, mas que o wagner montes eh uma deles, isso eh!!!!

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  4. Mas então, o ser humano nasce livre? Ou vive pra se submeter? Muita gente já passou a vida inteira discutindo isso e considerando como as coisas se encontram no momento não me parece que tenham chegado a uma conclusão que seja bem aceita.

    Para Jean Paul Sartre, o homem nasce com a angústia de ser livre e de tão angustiante muitos optam por se submeterem a qualquer coisa para terem a que obedecer e acabarem com tal angústia, o que pro próprio Sartre só serve para disfarçar tudo. Até porque, essa é a escolha deles, não escolher também é uma escolha.

    Considerando isso, há uma sugestão triste a se fazer, se a maioria da população mundial escolheu se submeter, talvez pudéssemos escolher deixá-los com essa escolha e trilhar nosso próprio caminho, com nossas próprias escolhas.

    O fato é, não há como salvar o mundo, isso porque ele não precisa ser salvo!

    Não posso deixar de considerar tudo o que escrevi acima, mas eis minha escolha:

    O mundo está em constante movimento, por mais que insistamos em manter algumas coisas cristalizadas a tendencia é sempre ao movimento. Pois bem, nos últimos tempos eu percebo o mundo se encaminhando para uma grande mudança.

    Eu penso que se puder me colocar em um lugar propício, se estiver junto a pessoas interessadas nisso também, há algo incrível que pode ser feito.

    O que quero dizer é que, eu VOU mudar o mundo, não sozinho, mas vou, pretendo causar uma grande diferença, sacudir a coisa toda, de forma que as pessoas tenham que pensar e muito pra botar as coisas n'algum eixo de novo. A intenção é desequilibrar e ajudar a acomodar tudo de uma forma diferente.

    Seja lá o que eu conseguir com isso, vai chegar o momento em que será melhor mudar tudo de novo, mas então eu espero que hajam pessoas interessadas nisso também!

    Bom, é só isso tudo por hora. Eu sei que num escrevo tão bem quanto o adevogado aí, mas é esse o meu jeito mesmo!

    Concluindo:

    Eis a minha oferta, aqueles que se interessarem, estejam preparados para serem atacados dsa formas mais sujas a indignas o possível. Preparem-se ainda para serem duros, duros o suficiente para afetar a vontade de milenios.
    Àqueles que aceitarem tais condições, sejam bem vindos!!!

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  5. Se um dia eu chegar a escrever com tanta propriedade e paixão como você, meu amigo, ficarei muito feliz!

    Para mim, o homem nasce simplesmente um homem; um animal que tem uma vantagem sobre os outros com os quais divide essa efêmera existência: a razão, uma benção e uma maldição, porque mesmo tendo a capacidade de refletir sobre suas ações e utiliza-las de maneira idônea, também consegue arquitetar as mais variadas maneiras de elas serem veículos para auferir vantagens indevidas. Desde o momento que o homem percebeu que juntar mais trigo que o outro iria lhe trazer vantagens, vivemos nesse ambiente.

    A tendência do ser humano é sempre à mais cômoda, o que é mais lógico. Quem iria escolher o caminho mais difícil? E o que é mais cômodo do que deixar a liberdade morrer em um estrondoso aplauso da multidão subjugada? "Eu??? Sair de casa para ir ver 'coisa de política' num Sábado? Nunca.","Olha, eu acho muito importante isso que você está fazendo, mas eu não acredito que vá mudar muita coisa e não quero me envolver." Já ouvi isso muuuuuitas vezes, e até compreendo com minha parte cômoda, mas desperta os instintos mais primitivos de minha parte resistente. Talvez até eu esteja sendo um pouco egoísta quanto a sempre tentar fazer as pessoas desistirem de sua complacência, talvez o mundo precise ser salvo, mas não queira sê-lo, mas eu tenho de continuar fazendo tudo isso para que eu mesmo não perca a esperança no anseio de liberdade adormecido no interior de cada um. E tenho uma grande esperança nela, pois já existiram grandes exemplos de que o homem acuado tende a correr para a luta. Em nosso mundo, a vida de uma homem é de paz e do outro é uma guerra, produzindo em alguns homens a mesma ilusão na paz perpétua e inabalável, até que o sonho é despedaçado pelo primeiro tiro de arma de fogo. E se esses homens não reconquistarem sua vida, viverão em um pesadelo de escravidão de sua alma. Talvez essas pessoas que não queiram mudar sejam somente reflexos de uma período de aparente paz, apesar de que eu, em minha ampla e vasta ignorância, não ver paz nenhuma em uma sociedade como a nossa. Talvez eles não possam ser mudados, não todos eles, mas se eles, ao menos, perceberem que a coisa tende a degenerar cada vez mais e mais do jeito que todos ignoram coisas tão óbvias... bem, eu espero não estar vivo na época em que não houver mais volta.

    Sempre há como mudar, pelo menos por enquanto, basta que as pessoas percebam que o homem que está ao seu lado não é seu inimigo, é um homem, como ele.

    Encerro com uma máxima de Rosseau “O homem nasce livre, e por toda a parte geme agrilhoado; o que julga ser senhor dos demais é de todos o maior escravo”. Quanto mais o ser humano se afundar em letargia, mais estará preso aos grilhões de uma destino terrível, mas sempre há tempo de mudar... pelo menos por enquanto.

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  6. Agente enrola muito, por isso, uma coisa deve ser dita: pontos de vista sempre variam, mas as nossas intenções não são lá tão diferentes, por mais que pareça que agente tá discordando um do outro nesses textos imensos, acaba que podemos nos confundir se perdermos isso de vista!
    Pelo menos é o que eu acho!

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  7. Concordo em gênero, número e grau!!!!! Hehehehehe, quem conhece a gente, sabe que estamos falando da mesma coisa hehehe. Palavras não são nada, o importante é a intensidade do que fazemos,e não nos resignamos. Morremos tentando, mas continuamos!!! Obrigado por comentar, camarada. Seja sempre bem vindo

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  8. Pois é Diego, disse tudo nesse post! Esses dias na aula de Filosofia,a gnt tava fazendo uma reflexão sobre o curso e o q a gnt gostaria q fosse mudado...Todos fizeram várias críticas, reclamaram dos horários, informações,quadro disciplinas, professores... Mas aí é que está...Na hora de criticar e apontar os defeitos todos falam, mas na hora de exigir os direitos todos se calam...Seja por medo ou comodismo, nada fazem para mudar aquela situação...Isso me deixa um pouco triste, afinal não escolhemos cursar Direito à toa! Praticamente no 6º período e nem representante de turma temos! Fala-se em diretorio mas a maioria não sabe nem o que se trata...Acho que esse descaso que começa bem perto da gente, no nosso dia-a-dia reflete a situação que o país passa...Espero que isso mude e todas absorvam aquela frase: 'seja a mudança que você quer ver no mundo'
    bjs !!!

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